Uma das coisas mais legais de ter um hobby como o colecionismo de games é que, além de todo prazer que uma coleção proporciona, você também pode usufruí-los, ou seja, pode jogá-los! Porém, jogar videogames antigos é praticamente uma ciência à parte neste hobby, principalmente se você quiser manter todos os seus consoles conectados prontos para uso e ainda por cima extraindo a melhor qualidade de imagem possível! Sendo assim, gostaria de compartilhar um pouco da solução adotada para “meu cantinho” focando nos consoles retrô e de quebra, fazer uma breve apresentação do mundo RGB, mas cuidado, esse mundo é quase um caminho sem volta!

Se você é de uma geração mais antiga e pegou o início da era dos videogames, provavelmente já deve ter usado (e sofrido) muito com a conexão RF, estou certo? Pois bem, esse tipo de conexão por radiofrequência (RF) é um dos modos mais antigos de transmissão de vídeo, onde você tinha que sintonizar a TV no famoso canal 3 (ou canal 4) para poder visualizar a imagem do videogame. Esse tipo de conexão vem desde a primeira geração e, acredite se quiser, foi até a quinta, já com PlayStation, Nintendo 64 e Saturn. Apesar que, a partir da terceira, nos anos 90, muitos consoles já tinham a opção de vídeo composto, que já apresentava uma significativa melhora de imagem em relação do RF, pois não tinha interferência eletromagnética (ou quase isso). Mesmo apesar do vídeo composto ter sido bastante popular nos anos 90, ele está longe de ser a melhor opção no quesito qualidade de imagem. E o mais legal é que muitos consoles já disponibilizavam um sinal melhor nativamente, só necessitava de um cabo adequado e uma TV que suporte, obviamente.

Bom, antes de apresentar meu setup, vamos passar brevemente pela evolução dos sinais analógicos de áudio e vídeo!

A evolução dos sinais de áudio e vídeo

Radiofrequência (RF) - Como dito, esse é o meio mais antigo de transmitir sinal de vídeo, onde você tinha que sintonizar a televisão nos canais 3 ou 4 para visualizar a imagem do seu aparelho. Apesar de ser nostálgico para algumas pessoas, esse é de longe o pior sinal de vídeo. Muitos ruídos e chuviscos na tela. Passe longe, se puder!

Vídeo composto (RCA) - Foi o meio mais popular depois do RF, pois apresentava uma melhora significativa em relação ao mesmos. Geralmente utilizando 3 conectores RCA: o de cor amarela é o sinal de vídeo composto, o vermelho é o canal direito de áudio e, por fim, o branco (ou preto) é o canal esquerdo de áudio. E cada conector possui apenas dois fios: um para transmitir o vídeo ou áudio e o outro é o terra.

Vídeo separado (S-video) - Este padrão oferece uma qualidade melhor do que o vídeo composto, pois são utilizados três fios (em um mesmo conector) para transmitir o sinal de vídeo: um para transmitir a imagem em preto-e-branco, outro para transmitir as cores e um terceiro como fio terra. Para transmitir o áudio é necessário conectar os dois fios com conectores RCA, ou seja, o S-video substitui o conector amarelo do padrão RCA.

Vídeo componente - Um dos melhores padrões no quesito sinal analógico, pois o vídeo componente utiliza três cabos para transmitir o vídeo e dois para o áudio. Conector verde, rotulado como Y, é o que transmite a imagem em preto-e-branco, enquanto o cabo azul (Pb, Cb ou B-Y) e o vermelho (Pr, Cr ou R-Y) são os que transmitem as cores. Os sinais de áudio continuam sendo os cabos vermelho e branco, iguais ao do vídeo composto.

VGA - A segunda melhor conexão de sinal analógico e muito popular entre os computadores a partir dos anos 90. Por meio de um conector de 15 pinos, conhecido como D-Sub, D-Shell ou HD15, este cabo possui fios independentes para cada sinal de vídeo: vermelho, verde, azul, sincronia horizontal e sincronia vertical.

RGB - Esta é a melhor conexão de sinal analógico pode ter, apesar de ser um sinal antigo, ele era bastante utilizado no meio profissional em monitores de vídeo. E mesmo usando o mesmo tipo de sinalização do VGA, o RGB oferece uma melhor qualidade devido a cada sinal estar em um cabo separado com blindagem própria, desta forma, ele é protegido de interferências eletromagnéticas.

Existem três diferentes padrões de cabos RGB e todos utilizam conectores BNC:

  • O RGB5 usa cinco cabos: vermelho, verde, azul, sincronia horizontal (Hsync) e sincronia vertical (Vsync);
  • O RGB4 usa quatro cabos: vermelho, verde, azul e sincronia composta (Csync);
  • O RGB3 usa três cabos: vermelho, verde + Csync e azul, também conhecido como sincronia no verde (sync on green).

Depois disso, vieram os sinais digitais, sendo o HDMI o padrão mais predominante entre os consoles de videogames.

Mas e o SCART que todo mundo fala?

Se você já teve algum contato ou até mesmo a curiosidade de conhecer o mundo RGB, você provavelmente já deve ter ouvido falar do SCART, estou certo?

Bom, o padrão SCART surgiu na Europa, mais precisamente na França em 1977 e veio para padronizar os sinais de entrada de áudio e vídeo, substituindo os RFs por lá. Sendo assim, SCART nada mais é do que um conector de 21 pinos que suporta RGB, vídeo composto e S-video, bem como os sinais de áudio estéreo e mono, ou seja, não é só porque é SCART que significa que você terá qualidade RGB de imagem. Mas para o mercado retrô de jogos, SCART é sinônimo de sinal RGB, dificilmente você encontrará um cabo SCART que não seja RGB.

Mas cuidado! Podem existir mais de um padrão de transmissão RGB usando o conector SCART, os dois mais famosos e comuns são: o EuroSCART e o JP-21 do Japão. Para piorar, eles não são compatíveis entre si, podendo até danificar seu aparelho se ligar um cabo SCART JP-21 em um aparelho EuroSCART ou vice-versa.

Dito tudo isso, vamos ao nosso setup!

Começando pelo móvel, adianto que é um rack simples, mas que acredito que esteja bem aproveitado. Nele estão tanto os consoles retrôs quanto os modernos. Mas vamos focar apenas na configuração dos retrôs, pois os modernos estão simplesmente ligados em dois switches HDMI que por sua vez estão ligados um cada porta HDMI de uma televisão de LCD antiga da Sony de 32”. Separei um switch para a sétima geração com o PS3 e Xbox 360 e o outro para oitava com o Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Wii U. Sem muito segredo.

Já os consoles das gerações anteriores possuem um investimento maior no quesito melhoria de imagem, mas ainda, sim, quis manter minha televisão de tubo, uma Sony Wega de 29”! Com isso, da maioria dos consoles eu extraio o sinal RGB via cabo SCART (EuroSCART) conectado a um switch SCART da GamesCare que, por sua vez tem seu sinal de saída convertido para vídeo componente através de um conversor, também da GamesCare, e ligado em outro switch, desta vez de vídeo componente (e olha só, da GamesCare!), pois alguns consoles eu utilizo o cabo vídeo componente direto, como no caso do Wii, PS2 e Xbox clássico. Confuso? Bom, está assim o cenário:

Apenas o Nintendo 64 e GameCube que ainda não estão ligados em RGB ou vídeo componente. O Nintendo 64 está conectado na entrada S-video da TV, pois para extrair o sinal RGB dele é necessário fazer uma modificação no console. Tem várias formas e lugares para fazer, mas ainda não fui atrás para saber os valores. Já o GameCube, está ligado via vídeo composto, pois seu cabo de vídeo componente é um absurdo de caro! Hoje em dia, acho que já até tem cabos alternativos, mas como geralmente jogo GC pelo Wii, nem fui atrás também!

Os demais consoles não tem modificação nenhuma, bastou comprar os cabos SCART específicos de cada um e pronto! Hoje em dia, inclusive, estes cabos são bem mais acessíveis de encontrar, a própria GamesCare tem a maioria (se não, todos) deles (Obs.: juro que este não é um post patrocinado pela GamesCare! 😅). Na época que resolvi entrar nessa, esses cabos eram só importados e muitas vezes tinha que esperar o fabricante abrir uma janela de compras para você conseguir adquirir o seu, ou seja, tinha que entrar numa espécie de fila de espera. Para ter uma ideia, os meus vieram da Retro Gaming Cables da Inglaterra.

Um pouco de fotos para ajudar entender o setup


  
    O SNES, PS1 e o Nintendo 64 ficam dentro das gavetas espelhadas
O SNES, PS1 e o Nintendo 64 ficam dentro das gavetas espelhadas

  
    Seletor SCART da GamesCare com seleção automática
Seletor SCART da GamesCare com seleção automática

  
    Este é o conversor SCART para vídeo componente
Este é o conversor SCART para vídeo componente

  
    Seletor de vídeo componente da GamesCare também possui seleção automática
Seletor de vídeo componente da GamesCare também possui seleção automática

  
    É um desafio a parte organizar todos esses cabos!
É um desafio a parte organizar todos esses cabos!

Para saber mais

Como dito, o objetivo deste post foi apenas apresentar o setup e dar uma breve introdução a esse mundo RGB. Existe todo um universo a ser explorado com assuntos mais detalhados, tais como sincronia de cores, monitores profissionais, escalonamento (upscalling), entre outros detalhes que quero deixar aqui algumas recomendações de conteúdo para se aprofundar ainda mais no assunto:

  • RGB Inside: podcast nacional totalmente dedicado a esse assunto. Apesar de estar atualmente parado, o canal conta com bastante conteúdo importante.

  • My Life in Gaming: um canal gringo absurdo que aborda no detalhe diversos tópicos sobre aquisição da melhor qualidade de imagem para jogar, vale a pena conhecer!

  • Retro Gaming Cables: o próprio site da fabricante de cabos e acessórios tem bastante conteúdo por escrito do assunto, esclarece muita coisa detalhadamente!

  • VGP - Videogame Perfection: um site com bastante conteúdo sobre o assunto, são referências!

  • RetroRGB: outro site importante nesta comunidade de RGB!


E aí, você já se aventura ou pretende entrar nesse universo RGB? Confesso que é quase um caminho sem volta, pois a diferença de qualidade de imagem é absurdamente notória, porém, tem que ir com calma, pois por se tratar de tecnologias novas para coisas antigas é bastante nichado e por consequência, o investimento pode ser alto se não tiver paciência. Além do mais, o importante é se divertir, não importando muito a forma!